Há dez anos, a batalha foi nos Aflitos – Por uma Alvirrubra
- Updated: 26 de novembro de 2015
Era sábado, 26 de novembro de 2005, última rodada do Campeonato Brasileiro da Série B e o Grêmio chegou ao estádio dos Aflitos sendo obrigado a passar no meio dos pernambucanos. Em campo, só dava Náutico, mas o Timbu não conseguia passar pela defesa fechada dos gaúchos. Uma vitória traria o tão sonhado acesso para um dos clubes, mas os Alvirrubros não estavam nos seus melhores dias. Os times desceram para os vestiários no zero a zero, com um pênalti desperdiçado pelo Náutico. O Timbu não desistiu, mas mesmo com a expulsão do lateral Alejandro Escalona, do Grêmio, aos 26 minutos, a bola não entrava. Porém, aos 35 minutos do segundo tempo, o juiz Djalma Beltrami acusou o zagueiro Nunes de ter tocado com a mão na bola e anotou um pênalti para o Náutico. A bola teria batido apenas no cotovelo do defensor, o que gerou um tumulto entre os gremistas e uma confusão generalizada que parou a partida por 27 minutos, resultando na expulsão de Nunes e Patrício após agredirem o árbritro. A Polícia Militar invadiu o campo com violência e instalou-se uma confusão generalizada com reservas, dirigentes e torcedores entrando no gramado. Durante a confusão, o meia Marcel arrancou grama da marca do pênalti para impedir a cobrança e Domingos foi expulso após tirar a bola das mãos do juiz.
Os dirigentes do time tricolor, comandado por Mano Menezes, ameaçaram tirar o time de campo por diversas vezes. Na visão deles, essa poderia ser a única chance de, nos tribunais, tentar reverter um quadro que, no campo, parecia irreversível: já com sete jogadores, uma expulsão a mais do tricolor encerraria a partida porque as regras impedem um time de ter menos de sete jogadores em campo, e se o Grêmio sofresse o gol de pênalti precisaria, com quatro jogadores a menos, fazer o gol de empate para subir à primeira divisão. Quando os ânimos se acalmara, o goleiro Galatto retomou sua posição e, no Náutico, o goleiro Rodolpho pediu para bater, mas o capitão Batata preferiu que o lateral Ademar fosse para a cobrança. O árbitro, que teria se irritado com o Grêmio após a confusão, colocou a bola na marca do pênalti e disse: faça o gol que eu acabo a partida. Era só o Timbu balançar as redes e comemorar com a sua torcida, porém, Galatto defendeu a cobrança. O zagueiro Batata teria fechado os olhos na hora da cobrança e, ao ouvir um som confuso vindo da torcida, percebeu que o Grêmio havia cobrado escanteio e estava, num contra-ataque rápido, chegando próximo à área alvirrubra. O zagueiro, que completava naquela data 32 anos, partiu pra cima de Anderson e, acabou recebendo o cartão vermelho.
Descendo as escadas para o vestiário, o capitão ouviu o grito de gol no estádio, mas não vinha da massa alvirrubra que estava lá presente. Era o gol do Grêmio aos 61 minutos da etapa complementar. Sem reação, só restou aos jogadores e torcedores do Náutico se lamentar pela tragédia, enquanto os jogadores e comissão técnica gremista corriam para todos os lados chorando e comemorando algo que, minutos antes, conforme colocado pelo narrador Pedro Ernesto Denardin, da Rádio Gaúcha, “só aconteceria por um milagre”. O Náutico ficaria, pela 13ª vez consecutiva, fora da elite do futebol brasileiro. Como no outro jogo o Santa Cruz havia vencido por 2 a 1, o tricolor pernambucano mantinha o título enquanto o jogo nos Aflitos não acabava, e chegou a dar a volta olímpica no Arruda com um troféu improvisado. Porém, o gol do Grêmio garantiu o título da Série B aos gaúchos e, aos tricolores, restou o acesso.
Dez anos depois, o Timbu deixou o acesso escapar novamente e vai para o 3º ano consecutivo na Série B, mas, dessa vez os tropeços foram acontecendo gradualmente e não chocou tanto a torcida. Os erros do passado servem para refletir, jamais repetir. Na época, o Timbu não tinha um cobrador oficial para bater as penalidades e talvez isso tenha contribuído para o resultado. O baixinho Kuki preferiu não arriscar pelo seu histórico de cobranças desperdiçadas e foi chamado de covarde. O goleiro Rodolpho pediu para cobrar e poucos ficaram sabendo desse ato de coragem. Do dia 26 de novembro de 2005, que fique apenas a lição. E que em 2016, assim como em 2006, o Timbu termine o campeonato no G4. Para os Alvirrubros, resta acreditar em dias melhore e ignorar a supervalorização desse evento dada pela mídia Pernambucana.