Retrospectiva: Náutico e um ano emblemático
- Updated: 29 de dezembro de 2015
Das quatro competições oficiais que disputou, o Timbu foi eliminado em três e, em uma, não atingiu seu objetivo. Normalmente essa seria uma situação desesperadora, onde facilmente haveriam torcedores se lamentando e dizendo que foi um ano perdido, mas, não. O Timbu se mostrou um time vencedor ao ser eliminado da Copa do Brasil jogando de igual pra igual com o Flamengo e sua cota milionária e, no brasileirão, por ter chegado no quase – dois pontos o separaram do último time a ser classificado para a Série A 2016 – mesmo com um elenco limitado, dívidas, escândalos e as campanhas ridículas no estadual e regional.
No dia 17 de janeiro, poucos imaginavam o quão instável seria a temporada para os Alvirrubros. Era sábado e o Náutico realizou um evento nos Aflitos para apresentar o elenco e entrosar o torcedor, com uma festa comandada pela Náutico Rock, sorteio de camisas oficiais autografadas e um título patrimonial, a chance de um torcedor marcar um gol de pênalti em Júlio César e, um amistoso contra o Decisão, que terminou empatado em 0x0.
Na ocasião, o Náutico apresentou Roni, atacante de 23 anos que foi o décimo reforço do Timbu para a temporada. Elivélton, Fillipe Soutto, Josimar, Bruno Alves, Jefferson Renan, Leandro Euzébio, Bernardo, Anderson Preto e Welton Felipe eram os primeiros contratados do time comandado por Moacir Júnior. Fica evidente a falta de critério nas contratações quando o time termina a temporada sem sete dessas peças, algumas, inclusive, deixaram o clube sem nunca ter atuado com a camisa Alvirrubra.
Talvez o caso mais curioso tenha sido o de Leandro Euzébio, que retornou ao Náutico após nove anos, no dia 9 de janeiro com a expectativa de ser o novo xerifão de uma defesa que ainda estava sendo montada. A diretoria não mediu esforços para trazer o atleta, mas a torcida comemorou por pouco tempo. Campeão brasileiro com o Fluminense em 2010 e 2012, o zagueiro de 33 anos jogaria ao lado dos recém contratados, Felipe e Elivélton, até se lesionar na Supercopa do Maranhão.
O zagueiro sentiu o joelho direito devido a falta de ritmo pelo tempo que passou parado, mas logo iniciou o processo de transição. Para ter certeza que estava pronto para jogar novamente, Euzébio solicitou que a diretoria convocasse um jogo treino, mas, para a surpresa de todos, ele não apareceu. Na manhã do dia seguinte, 24 de fevereiro, o até então gerente de futebol do Timbu, Carlos Kila, já anunciou que o Náutico estava dispensando o atleta por indisciplina e que ele estava liberado para buscar outro clube.
Em nota: “O Clube Náutico Capibaribe, por meio da Diretoria Executiva, vem a público, principalmente aos sócios e torcedores, comunicar o desligamento do atleta Leandro Euzébio, uma vez que o mesmo não se enquadrou dentro da filosofia de trabalho do Departamento de Futebol. Desta forma, fica o atleta livre para negociar seu ingresso em qualquer outra agremiação”.
A temporada iniciada com o técnico Moacir Júnior acabou não agradando muito os torcedores, que pressionaram e o treinador deu lugar a um nome já conhecido entre os Alvirrubros. Lisca voltou enquanto o Pernambucano e a Copa do Nordeste estavam em andamento e ficou até a 25ª rodada do Brasileirão. A Era Lisca chegou ao fim mais uma vez e o treinador, ainda hoje, cutuca o Timbu em algumas coletivas.
O ano começou para o Náutico na Supercopa do Maranhão, que foi um torneio interestadual amistoso, realizado nos dias 22 e 25 de janeiro, no Estádio Governador João Castelo (Castelão), em São Luís-MA. Na primeira partida, o Náutico venceu o Vitória-BA por 2×1, na ocasião João Paulo e Gastón balançaram as redes adversárias, enquanto o Sampaio Corrêa-MA venceu o Moto Club-MA pelo mesmo placar, com um gol, inclusive, marcado por Gil Mineiro, que acabou vindo para o Timbu por indicação de Lisca. Na final, o Náutico perdeu para o dono da casa, Sampaio, numa partida apática, e terminou com a segunda colocação, recebendo 80 mil reais de premiação.
Já a Copa do Nordeste começou difícil para o Timbu, que estreou com empate contra o Salgueiro e venceu apenas o Piauí, em Teresina, e o Moto Club-MA em casa. Para chegar à segunda fase, o Timbu poderia até perder para o Salgueiro na volta, se os resultados combinados fossem favoráveis. O Salgueiro saiu na frente e a polêmica começou com o segundo gol do Carcará, quando os Alvirrubros pediram falta em Welton Felipe e o técnico Lisca, irritado com a não marcação, bateu boca com o quarto árbitro e acabou expulso. No intervalo, Carlos Kila também discutiu com a arbitragem.
No segundo tempo o zagueiro Diego foi acionado e, na sua primeira disputa de bola, acertou Anderson Lessa e acabou sendo expulso, com isso iniciou uma discussão dentro de campo e o lateral Lúcio, do Salgueiro empurrou alguns atletas do Náutico e acabou recebendo vermelho também. A partida terminou em 3×1, o gol do Timbu foi marcado por Josimar, e os atletas alvirrubros permaneceram no gramado esperando o final das outras partidas. O perfil oficial chegou a postar no twitter que o Náutico havia se classificado, mas isso só seria certeza com o placar de 2×1.
Perdendo com dois gols de diferença, o Náutico acompanhava a rodada e, realmente, estava classificado, mas o Campinense estragou a possível festa do Timbu. O time paraibano marcou o empate no fim da partida contra o Bahia, em 1 a 1, e garantiu a classificação. Coube aos Alvirrubros lamentarem a eliminação. Do dia 18 de março, ao dia 5 de abril, essa derrota já havia deixado de ser notícia, mas o Salgueiro voltou a ser a pedra no sapato do Náutico.
Uma das maiores decepções do ano foi o Campeonato Pernambucano. Mais um empate em casa contra o Salgueiro na estreia, marcou o primeiro dos oito jogos sem vencer. As duas vitórias do Timbu vieram contra o Serra Talhada, com quatro gols de Josimar – que se firmou como artilheiro do Timbu na temporada –. Precisando de apenas um empate contra o Salgueiro no Cornélio de Barros, o Timbu protagonizou uma das partidas mais polêmicas do ano em Pernambuco.
Dessa vez, o Timbu precisava passar de fase para, no mínimo, garantir a classificação para a Copa do Nordeste e Copa do Brasil 2016, mas o Carcará foi superior, mesmo com um jogador a menos em campo. Aos 26 minutos, o juiz marcou pênalti para o Náutico e, apesar das reclamações dos adversários, ele mudou sua decisão apenas quando o quarto árbitro, Glaydson Leite, o informou de um possível erro. Há quem diga que o pênalti que favorecia o Timbu foi questionado por uma emissora de televisão e, por isso, o árbitro anulou a cobrança do que poderia ser o primeiro gol do Náutico, e o Salgueiro cobrou apenas tiro de meta.
Inconformados com a decisão, os Alvirrubros foram pressionar o juiz, que acabou expulsando o técnico Lisca e o goleiro Júlio César. No banco, o Timbu tinha o goleiro Bruno, mas já havia feito as três substituições e precisou colocar um jogador de linha no gol. João Ananias, heroicamente, vestiu a camisa e as luvas, mas quando ficou frente a frente com Valdeir, acabou levando o gol que praticamente decretava o fim do Pernambucano 2015 para o Náutico. Aos 47 do segundo tempo, Bruno Alves marcou um gol, digamos, inútil e, no último lance da partida, novamente Valdeir apareceu e chutou de longe para fechar o caixão: 4×1.
Após um início de ano para esquecer, o Náutico entrou na Copa do Brasil disposto a ter dias melhores e apesar de estar com um time misto – com David e Piauí improvisados na defesa –, o Timbu conseguiu uma vitória simples contra o Brasília na estréia, com um gol bastante comemorado, o meia Pedro Carmona, que voltava de lesão após mais de um ano parado e algumas cirurgias, marcou um belíssimo gol. Na volta, algo curioso, o Timbu venceu por 2×0 com um gol contra e um do volante Anderson Preto, que não tinha muito espaço no time.
Na segunda fase, contra o Jacuipense-BA, o Timbu eliminou o jogo de volta ao vencer por 2×0 com gols de Josimar e Patrick Vieira. Classificado, os Alvirrubros viajaram até o Rio de Janeiro para enfrentar o Flamengo, no Maracanã. Mais uma partida onde o Náutico foi notícia negativamente, não pelo placar, mas por algo que aconteceu fora das quatro linhas. Pelo Flamengo, Jayme de Almeida no comando após Oswaldo de Oliveira deixar o clube; pelo Náutico, Levi Gomes substituía Lisca, suspenso.
Tudo estaria bem, até a câmera de uma emissora flagrar o técnico, que estava apenas como torcedor, se comunicando provavelmente com algum jogador no banco de reservas (pelas imagens, parecia o goleiro Jefferson) e, apesar de não ter acontecido nada após o fato, houve quem defendesse uma investigação e até punição para o Timbu.
Em campo, o Rubro-negro saiu na frente, mas o Náutico pressionou e empatou com Douglas, um gol fora de casa é importante no mata-mata, então o Timbu voltou pra casa precisando apenas de um empate sem gols para se classificar. O intervalo entra as partidas foi fundamental para o Flamengo, que veio para o Recife com reforços de peso, como Emerson Sheik e Paolo Guerrero.
Em campo, o Flamengo venceu por 2×0, mas o Náutico pressionou e jogou de igual para igual. Uma noite com direito a mosaico não totalmente finalizado por conta da chuva, jogadores do Flamengo na torcida do Náutico escoltados pelo Batalhão de Choque e protesto sobre a disparidade absurda nas cotas de TV entre os clubes.
Restou um último objetivo aos pernambucanos, o G4 da Série B do Campeonato Brasileiro. O Náutico fez o campeonato regular até certo ponto, ficando invicto até a sétima rodada, figurando, inclusive, o topo da tabela, até perder para o Atlético-GO no Estádio Serra Dourada. Após a derrota, o Timbu colecionou empates, contra o ABC-RN, talvez, o mais amargo.
Os Alvirrubros, em caravana, fizeram um público honesto no Frasqueirão-RN e viram o Timbu sair na frente por três vezes e sofrer o empate três vezes. Na décima rodada, uma vitória sobre o Oeste-SP trouxe de volta a esperança do torcedor, que já dava por certa a vitória sobre o Mogi Mirim, que estava na parte de baixo da tabela fazendo um campeonato péssimo. Contra o Mogi, há quem diga que o Náutico fez sua pior partida, até então, no campeonato e sofreu mais uma derrota.
A partir daí, o Timbu começou a oscilar bastante, apesar de estar brigando sempre na parte de cima da tabela e invicto em casa. Venceu o Santa Cruz em casa mas perdeu para o Botafogo no Rio de Janeiro, venceu o Vitória em casa mas perdeu para o Paraná em Curitiba. Empate em casa com o Macaé, derrota em Maceió contra o CRB, empate com o Bahia na Fonte Nova e, talvez o principal, uma proposta do Flamengo pelo atacante Douglas e do Ceará pelo técnico Lisca, desencadearam uma sequência instável que prejudicou todo o campeonato do Timbu.
Uma das partidas mais bizarras, com certeza, foi contra o Luverdense, no Passo das Emas-MT, quando a equipe pernambucana perdeu por 5×1 e o que menos chamou atenção foi o placar. O Náutico estava jogando contra si mesmo e, além do gol contra do goleiro Júlio César, a defesa parecia dormir em campo e os alvirrubros voltaram para Recife sendo fortemente criticados pela covardia.
Após a derrota por 1×0 para o Ceará, o técnico Lisca encerrou seu ciclo no Náutico pela segunda vez e, apareceu no próprio Ceará, sendo um dos responsáveis pela recuperação histórica do time que seria rebaixado.
No Náutico, Gilmar Dal Pozzo chegou e a torcida estava apreensiva, era um tiro no escuro e o Timbu precisava acertar caso ainda tivesse a pretensão de subir. O treinador havia conquistado três acessos com a Chapecoense e teria a oportunidade de colocar mais um acesso no currículo. Com o tempo, foi apelidado de “padre” ao se mostrar sempre uma pessoa calma e com palavras precisas.
Dal Pozzo fez um excelente trabalho no Timbu, conseguindo estragar a festa dos tricolores, que planejavam vencer o, segundo eles, “Clássico do Ano” e amargaram um 3×1 com direito a drible de Hiltinho em Danny Morais, que posteriormente virou meme. Apesar da derrota para o líder e futuro campeão, Botafogo, na 32ª rodada, o Náutico seguia vivo na briga e o treinador estava com moral.
O dia em que o Náutico viu o acesso escapar, foi 11 de novembro, quando o clube divulgou uma nota oficial: “A partida Náutico x Bahia pela 37ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B será disputada no Estádio do Arruda. A alteração do local da partida já foi autorizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF)”. Apesar dos pedidos do técnico Gilmar Dal Pozzo para o Náutico não se preocupar com a 37ª rodada antes de jogar – e vencer – a 36ª, a preocupação com o local de Náutico x Bahia tirou o foco da partida contra o CRB.
Os dois pontos que o Náutico deixou de ganhar na reta final, contra o CRB na Arena Pernambuco, foi o pouco que faltou para o Timbu subir junto com o Santa Cruz e os três Pernambucanos marcarem presença na Série A 2016. Ironicamente, o Náutico jogou contra o Bahia na Arena Pernambuco e, apesar de ter vencido essa e a última partida – contra o Bragantino, em São Paulo –, terminou na quinta colocação e disputará apenas o Campeonato Pernambucano e o Campeonato Brasileiro da Série B em 2016.
Alguns escândalos extra campo marcaram o último ano da gestão Gláuber Vasconcelos, como os boatos de arrombamento na cozinha do CT, o roubo de 10 televisões, as provocações ao Santa Cruz e à qualidade do Estádio do Arruda e, um fato triste, que foram os dois lançamentos dos novos padrões, sem um evento oficial para divulgação. No fim, ao torcedor só resta agradecer por 2015 ter acabado.