Ademir Quintino fala no Mercado do Futebol
- Updated: 9 de novembro de 2015
Seguindo a ideia de trazer entrevistas com jogadores em atividade, ex-jogadores e pessoas ligadas ao futebol, hoje o Mercado do Futebol tem a honra de poder entrevistar o Blogueiro e Repórter de Campo Ademir Quintino, que cobre há anos, o dia-a-dia do Santos Futebol Clube.
MF – Ademir, Radialista desde 1997, mais de mil jogos do Santos tiveram sua cobertura e seus comentários, por diversas rádios e vários locutores consagrados como o saudoso Fiori Gigliotti. Como isso é para você hoje?
Faço o que mais amo e tenho a felicidade de cobrir o time que sou apaixonado. Sou feliz e realizado. A maior parte da torcida do Santos me reconhece como referência nas informações do clube e com um blog independente, sem associação com nenhum outro veículo de comunicação grande.
MF – Muitas coberturas que você fez lhe encheram de orgulho, outras o deixaram decepcionado. Mas qual pode ser citada como a mais marcante?
Creio que tenha sido em Assunção, no Paraguai. Meu avião atrasou e cheguei no estádio há duas horas do jogo. Estava tão cheio que não consegui chegar as cabines. Transmiti o jogo da laje do estádio, através do celular, porque o funcionário me impediu de ir a área reservada à imprensa. O Santos se classificou para a final da Libertadores em 2011. Eu estava com tanta pressa que esqueci o notebook no taxi quando cheguei ao estádio. Fui atrás do taxista após o jogo e recuperei. Inesquecível pelas dificuldades e também pela classificação do Santos diante do Cerro Porteño e voltava a final da maior competição do continente, após oito anos.
MF – Ademir, você se tornou referência para o torcedor santista e é hoje o principal setorista do Peixe. Você em algum momento da carreira chegou a temer que dizer ao grande público a sua predileção ao SFC poderia lhe prejudicar profissionalmente?
Temos outros bons profissionais que acompanham o clube. Sim, nos meus primeiros anos de rádio, até 2007, eu não falava que era santista – eu era um repórter água com açúcar. Depois resolvi ser mais polêmico e assumi a santistidade. Perdi algumas oportunidades por isso, mas não me arrependo em ter tornado público que sou apaixonado pelo Santos. Queria fazer sucesso com a torcida do Santos, não outra e acho que isso eu consegui.
MF – Como é a sua relação com os torcedores alvinegros? É sabido que muitos torcedores lhe perguntam o tempo inteiro sobre informações do Peixe via redes sociais. Você se sente cobrado em demasia pelos torcedores ou há alguma pressão para que todas as informações cheguem ao grande público com o máximo de precisão?
Não. Cobrança não, mas como trabalho com outras atividades profissionais, não tenho tempo de responder a todos e cresceu demais as pessoas que me acompanham. Torcedores de outros clubes estão me seguindo e perguntam também. E recebo cobranças da família por não dar o tempo devido a eles. Dentro das minhas limitações procuro responder tudo e todos. Hoje faço assessoria de dois políticos da minha cidade, fazia de um clube da 4a. Divisão paulista, trabalho para a TV legislativa da minha cidade e corro atrás de anunciante pro meu blog também. É muita coisa, mas se sou alguém hoje, dou graças principalmente ao torcedor do Santos e a eles devo satisfação, por isso procuro dar atenção a todos, na medida do possível.
MF – O Santos iniciou o ano, de uma forma muito conturbada, cheio de dúvidas e medo por parte dos seus torcedores. Chegamos ao final do ano, Campeão Paulista, finalista na Copa do Brasil e no G4 do Brasileirão, além das categorias de base estarem disputando finais em quase todas suas divisões. Como avaliar este ano para o Santos?
Pode ter sido surpresa para alguns, para mim não foi. Escrevi em janeiro que o clube manteve a espinha dorsal e que poderia ser campeão estadual, como foi. O que efetivamente me surpreendeu foi o trabalho do Dorival ter dado certo a curto prazo. Eu esperava resultados por que conheço o potencial desses jovens, a médio e longo prazo, não que sairia da zona de rebaixamento para disputar a final da Copa do Brasil e a retomada no Brasileiro. O ano será maravilhoso se a vaga a Libertadores for confirmada. O time não disputa a competição desde 2012. Um time da representatividade do Santos não pode passar três anos sem disputar essa competição.
MF – Neste final de ano, as categorias de base do Santos estão nas finais do Paulista sub-17 contra o SCCP e nas semifinais do sub-20 contra o Rio Claro. Surge mais uma nova “safra” de Meninos da Vila para as próximas temporadas?
Gosto de acompanhar a base do Santos. Vejo ótimos meninos no 13, 15 e 17. No 20, vi poucos jogos. Tem bons jogadores, mas não esperem nenhum Robinho ou Neymar a curto prazo. Isso não brota da noite pro dia.
MF – Você trabalhou com o Jean Chera e infelizmente o jogador não rumou pelo caminho que lhe daria mais chances de sucesso, como todos acreditavam que iria ocorrer. Você tem alguma opinião formada sobre em qual momento o Jean Chera perdeu a oportunidade de ser um grande talento no futebol profissional?
Este é um assunto delicado. Se eu falar bem, serei acusado de proteger o garoto por ter trabalhado com ele, se falo mal, serei taxado de ingrato. O que posso dizer que a saída dele do Santos em 2011 foi péssima. Ele perdeu muito tempo. Ficou praticamente dois anos durante a sua formação sem se desenvolver em razão do imbróglio Santos- Genoa-ITA – Flamengo. Ele é talentoso e busca recuperar seu espaço.
MF – A arbitragem brasileira passa por um momento de muitos questionamentos. Qual sua opinião sobre esta situação?
Não creio que a arbitragem brasileira esteja corrompida como foi nos anos 90 e 2000 com escândalos descobertos, inclusive. Eu tenho convicção que ela é fraca mesmo. Assim como os jogadores, não temos grandes árbitros no futebol que um dia já foi o melhor do mudo.
MF – Com a Copa do Mundo realizada no Brasil, muitas arenas foram feitas, estádios de padrão mundial. A Vila Belmiro hoje, mete medo em todo adversário, porém sua capacidade é muito pequena, pouco mais de 16 mil torcedores. Como você vê a ideia da construção de um novo estádio para o Santos? E se for construído, como deveria ser usada a Vila Belmiro?
Desde que eu era criança ouço falar na ampliação da Vila, construção de um novo estádio e nunca saiu nada. Prefiro aguardar algo concreto, algo que jamais surgiu. O Santos é do mundo, porém sua sede é na baixada e isso precisa ser respeitado, entretanto, penso que o clube podia explorar mais o seu potencial em outras praças. Norte do Paraná, Mato Grosso e outros. Tudo feito com planejamento dá para ser bem executado.
MF – A seleção brasileira hoje passa por um momento de descrença por parte dos seus torcedores e já não mete medo mais nos adversários como antigamente. O futebol dos adversários evoluiu ou a nossa qualidade que baixou? Ainda pela seleção, hoje o centroavante titular é o Ricardo Oliveira e na Copa do Mundo em 2018, ele terá 38 anos. Vendo hoje como ele leva a carreira a sério, podemos esperar que ele esteja pronto para disputar a Copa da Rússia, mesmo com a idade mais avançada?
Os outros evoluíram e nos estacionamos. Quanto ao Ricardo, é meu amigo particular de longa data. Um dos poucos que fiz no meio. Sou até suspeito para falar, mas é um ser humano sensacional e se cuida muito. Tem muita coisa para acontecer até 2018 e precoce dizer algo agora. Mas não me surpreenderá se ele chegar bem até lá. Talento ele tem para isso ele tem.
MF – Ademir, o Santos ficou 18 anos na fila e teve seu retorno aos títulos com os meninos da Vila, na geração do Robinho. Em 2010, outra geração fez seu feito ganhando a Libertadores em 2011, comandado por Neymar e ambos são ídolos do clube. Logo teremos outro “Menino da Vila” como ídolo santista?
O Santos tem como DNA revelar jogadores, mas não é todo dia que vai revelar jogadores dessa grandeza. Temos que dar tempo ao tempo. Hoje no sub-20 não vejo nenhum fora de série com essa capacidade.
MF – Você acompanhou a carreira do Neymar desde os seus primeiros chutes na bola. Como você vê ele hoje, atuando como principal jogador do Barcelona, neste momento que o Messi se encontra machucado? Ele será Bola de Ouro nos próximos anos?
Sempre achei que ele seria ótimo jogador – isso aos treze anos, quando o conheci, mas jamais imaginaria que teria essa grandeza. Neymar desde 2010 eu digo isso, será distante muitos anos o melhor do mundo.
MF – Sobre os últimos acontecimentos, criou-se uma rivalidade extra para o clássico Santos x Palmeiras, que decidiu o Paulistão deste ano e decidirá a Copa do Brasil. Como você vê este clima criado para os próximos jogos?
Futebol é isso. O duro é que infelizmente alguns torcedores mais radicais apelam para a violência. Nos anos 80,90 tinha essas provocações e era gostoso.
MF – Ademir, você acompanha muito as categorias de base com seu filho, que já podemos falar que é craque de bola e atual pela Ponte Preta, com muito destaque. Como você projeta o futuro das categorias de base no Brasil?
Sobre o Andrey prefiro não comentar, sou suspeito. Sobre as categorias de base eu me preocupo. Vejo times formando para não perder e não revelarão ninguém e jogos muito violentos. Isso é extremamente perigoso. Estão matando as galinhas dos ovos de ouro.
MF – Ademir, muito obrigado pela oportunidade, por poder compartilhar um pouco de sua experiência e conhecimento do futebol com nós do Mercado do Futebol. Agradeço em nome de todos do MF, em especial dos colunistas santistas Evandro Guga e Joelli Santos, que me ajudaram a fazer esta matéria. Deixe uma mensagem aos nossos seguidores, amantes do futebol e também a galera santista que nos segue.
Eu que agradeço a vocês pelo carinho. Obrigado a nação santista por confiar tanto no meu trabalho. A credibilidade é o bem mais valioso que um profissional da comunicação pode obter. É uma questão de caráter também.