A autodestruição do Campeonato Carioca
- Updated: 19 de março de 2016
Hoje vamos falar desse maravilhoso campeonato cheio de surpresas e rivalidades e… a espere, não é pra falar da Liga dos Campeões da Europa? Desculpe-me, vamos voltar para a triste realidade e falar do sonolento, sem graça, chato, e alguns outros adjetivos a mais do Campeonato Carioca.
Bom, primeiro vamos tentar entender o campeonato… O Carioca esse ano foi dividido em 2 fases de pontos. A primeira classificava até 8 times para a 2º fase, onde foi zerado as pontuações e se começa tudo de novo com os 8 times classificados jogando entre si, até os 4 primeiros avançarem para uma semifinal e em fim uma final. A realidade é que a cada ano o Carioca se torna ainda mais irrelevante, mal servindo de preparação para a sequência da temporada, a única coisa que anima é que ao menos teremos uma sequência de desafios maiores para lapidar o time para a sequência da temporada, e é ai que eu digo “obrigado Primeira Liga”, imagina ficar jogando só o carioca até o Brasileirão?
Pergunte a um torcedor de um clube carioca sobre uma memória que lhe arranque um sorriso em segundos. Logo surgirá um tricolor narrando um gol de barriga de Renato, o Gaúcho. Sorridente, o rubro-negro puxará de primeira a falta de Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo contra o Vasco. O vascaíno, por sua vez, rebate com o cruzamento de letra de Léo Lima para o gol de (quem mesmo?) Souza. O botafoguense, com um sorriso debochado, descreve a cavadinha de Loco Abreu diante do Flamengo em um Maracanã lotado. Histórias de vida, histórias de torcedor, histórias de um Estadual. Um campeonato que parece não respeitar as próprias memórias e impede o surgimento de novas ao trilhar o caminho da autodestruição.
É inegável que a importância dos Estaduais no passado era maior. Bem maior. Nas décadas de 70 e 80 talvez fosse mais importante conquistá-los do que levantar um Brasileiro ou uma Libertadores. Mas o mundo, não só o da bola, mudou. As distâncias encurtaram. Um rubro-negro provocar um palmeirense ou um corinthiano em tempos de redes sociais é quase o mesmo do que cutucar um vascaíno no passado. O Estadual deve encolher no calendário e fazer dignamente a passagem para torneios que amadureceram e, hoje, têm preferência entre os torcedores. O Estadual do Rio, o Carioca, no entanto prefere o embate que o leva à autodestruição.
A disputa pelo poder político pavimentou o caminho da destruição. O Carioca caiu no óbvio dos quatro grandes, a chance de surpresa diminuiu, o nível técnico também. O interesse, naturalmente, minguou. A crise é de identidade. O caminho, do fim.
Daria para falar aqui de tudo que tem tornado o Carioca esse ano ainda mais chato. Birrinha da Ferj e um dos últimos cartolas do futebol nacional – que hoje é presidente de um grande clube carioca -, contra a Primeira Liga, falta de estádios, baixo público, falta de organização e por ai vai. Nenhum time apresentou um grande nível de alto e impressionante de futebol. As partidas dão prejuízo e contribuem para arranhar a imagem dos clubes, com distorções como o caso de o Flamengo, dono da maior torcida nacional, jogar para 300 pessoas numa noite em Volta Redonda ou Jefferson, goleiro do Botafogo, utilizar um esparadrapo no lugar de número na camisa. Em 2016, a fórmula composta por três confusas fases e jogos sem grande interesse, contribuiu para levar o Estadual do Rio a um ponto emblemático. Sem acerto entre as partes, clássicos pelo Campeonato Carioca, como o charmoso Fla-Flu, são levados para São Paulo ou Brasília. Irreal. E enche de argumentos quem questiona a existência da competição.
Que o Flamengo não tem dado importância para o Carioca isso não é novidade, se não ganhar também não vai ser um absurdo.
“O Campeonato carioca tem que acabar”..?
Extinguir o Carioca seria pouco inteligente. Não se pode jogar fora o passado. As memórias estão vivas e há espaço para novas. Mas com disputa de poder, jogos deficitários, fórmula longa e desgastante, o interesse pode se dissipar. É o que ocorre com esse apático campeonato. Ainda há espaço, mesmo que em 594520943 rodadas restantes, com dois grupos, semifinal e final. Maracanã cheio. Um esquenta para o restante da temporada.
Há solução?
Clubes e, principalmente, Federação deveriam levantar a bandeira branca e pedir um tempo. Sentar em uma mesa e repensar. Fórmula, estrutura, divisão de cotas, legitimidade, atrativos para o torcedor. Ainda há tempo de impedir a autodestruição. E permitir que Gol de Barriga, Cavada do Loco Abreu, Letra do Léo Lima, Gol do Pet aos 43 do segundo tempo tenham sequências dignas de arrancar um sorriso em segundos do torcedor.