O Santos é cosmopolita, do mundo. Devolvam o Peixe ao povo!
- Updated: 17 de novembro de 2015
Foi num Maracanã sem Pelé que o povo chegava para assistir o maior time da terra. Num Maracanã que sem querer perpetuou o Mar Branco, de arquibancadas vibrantes, povo da arquibancada que torcia pelo time que inventou o futebol arte. Lavamos a alma daqueles que só conheciam o fracasso internacional, até o exato momento de o brilhante Santos surgir e destruir de vez o fantasma de 50 e a síndrome de vira latas que atormentava o estádio mais importante do mundo.
Foi assim, de pênalti com o Dalmo, que o título mais importante do Santos até aqui saía, quase que num prenuncio do que anos depois o maior atleta de todos os tempos também faria o seu gol 1000, de pênalti, assinalando assim o gol mais marcante de sua carreira.
Era o Santos e o povo, o povo fluminense, os cariocas da gema, gente da Guanabara que assistia o querido e temido clube do litoral paulista a derrubar os italianos do Mazolla dentro do certame.
E é assim, com gratidão ao jundiaiense Dalmo, no aniversário do gol que levou a delírio o povo do Rio de Janeiro de São Sebastião que dou inicio a essa crônica peixeira.
O Santos é a resistência, desde sempre, não nasceu até então em uma megalópole, não advém de um núcleo de expansão em metrópole desvairada, a cidade de Santos era longe, de acesso ruim ao planalto. O SFC não teve em seu nascituro um modelo de torcedor de maioria do operariado imigrante como na região do planalto, do sistema fabril paulistano. O Santos nasceu assim, assim, leve como a brisa do mar, azul, branco e dourado e, a posteriori, branco do amor, preto da nobreza, time dos peixeiros, tido pejorativamente como time dos caiçaras, como se cravou na História, com muito orgulho, com muito amor.
No Santos o passado jamais será longínquo, nosso passado é presente, nosso passado é o nosso futuro, o nosso orgulho, porque o Santos é o time que acolheu o menino negro que revolucionou o planeta bola, que mostrou ao mundo que racismo é coisa de ignorante, que transformou em Rei um homem negro em um país extremamente racista, país branqueado com subsídio governamental de políticas eugienistas. Nem Darwin explicaria a revolução do futebol no Santos, nem Darwin, tampouco Heródoto, porque entre a ciência que estuda o homem no tempo e no espaço, ou a evolução da espécie, compreender o Santos é esbarrar na própria lógica.
O Santos é o time daqueles jovens torcedores que subiram a Serra do Mar em 1935 com galões de gasolina, porque se o juiz favorecesse o time do planalto por mais uma vez, as arquibancadas de madeira no bairro do Tatuapé seriam incendiadas.
Porque o Santos é o time que tem a sua maior concentração de torcida fora da sua jurisdição, porque os santistas de outros rincões precisam viajar para ver o Santos jogar. Porque o Santos têm a sua maior organizada na Zona Leste da capital, reduto do seu maior rival. Sendo assim, tinha tudo para dar errado, mas não se deu assim.
Pouco a pouco a Vila foi sendo esvaziada, sem planos para sócios torcedores com renda abaixo daquilo que vem sendo praticado no futebol, de maneira não tão inteligente, a diretoria vem traindo a sua origem, traindo o povo que o fez ser gigante. Porque para ser santista de verdade, não se faz necessário fazer parte de um núcleo que segue no primeiro escalão de números do ibope com torcedores de 2, 3, 4 times ao mesmo tempo. Para ser Santos, basta ser santista, mesmo que seja 1 em cada 4, não importa como seja, mas que seja apenas Santos e, se é santista, é resistir à tendência, a moda tão démodé, tão clichê.
Porque o Santos é diferente, o Santos é das casas de palafitas de Cubatão, o Santos é do Marapé, da Zona Noroeste, do Jardim Casqueiro, porque o Santos é da México 70, de Saboó, de Santa Terezinha, Aparecida, de Ocian, de Agenor de Campos, da Vila Zilda, do Jaçanã na Zona Norte paulistana, do Itaim Paulista, do Valo Velho, do mundo e não somente do Gonzaga, da Vila Rica e da Ponta da Praia.
Atenção Comitê Gestor e atual Presidente, devolvam o Santos ao povo e que os lugares vazios na Vila sejam destinados para quem um dia já foi de direito, como nos anos 80 e 90, quando o asfalto e o morro dividiam a mesma arquibancada da Vila mais famosa do Mundo.
Evandro Amaral Fernandes – Guga.