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Não é novidade pra ninguém que as últimas gestões que comandaram o Náutico obtiveram resultados pífios por conta da divisão, pela oposição estar infiltrada tentando derrubar algo ou alguém. Isso é fato, mas, mais do que política, o Náutico está, nesse momento, fragmentado. Se for analisar a partida de ontem contra o Bahia, a última do Náutico em casa em 2015, foi um jogo que ambos apenas tinham que cumprir tabela (mesmo enquanto o Santa Cruz apenas empatava com o Mogi Mirim, as chances de acesso para o Timbu eram mínimas), mas, foi a última oportunidade do torcedor ver essa equipe junta em campo, pelo histórico de poucas renovações e mudança de elenco na inter-temporada.

O que aconteceu? O Náutico conseguiu uma vitória simples contra o Bahia, nada que mereça destaque, mas, venceu, e é esse o objetivo, vencer. Dentro de campo, nenhum show extraordinário de talento, habilidade, nenhum futebol excelente, nada demais, mas nada me chamou tanta atenção como o fato de olhar pro lado e ver uma Arena completamente vazia. O torcedor abandonou o Náutico faz muito tempo, e eu não julgo quem desistiu de ir à estádio e pagar mensalidade, é doloroso participar de um time que não convence e tem pouco do que se orgulhar das suas campanhas recentes. Os 1.666 torcedores que estavam na Arena ontem, viram um rival conquistar o acesso à Série A depois de 11 anos fora dela, o mesmo período de tempo que o Timbu não conquista um título.

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Talvez viver com a corda no pescoço na vida, seja inevitável, mas no futebol, é opcional. Ninguém é obrigado a torcer pelo Náutico, ninguém é obrigado a sofrer pelo time, mas, quem escolheu participar disso, tem que rever alguns conceitos, e é sobre isso que eu queria alertar. Na última noite, em especial, li bastante comentário revoltoso nas redes sociais, a maioria deles se dirigindo aos torcedores que, com o fim da Série B se aproximando, declararam fidelidade e juraram amor ao time. Não é questão de se contentar com pouco e achar que é normal um clube centenário terminar em lanterna no estadual e deixar o acesso escapar por tropeços contra times de menos expressão, mas, é o que a torcida deve fazer.

Entendo quem, na raiva, não quer falar sobre amor, mas, ver “torcedor” do Náutico humilhar e criticar os menos pessimistas mostra que a racha não é só política, a torcida se dividiu, e isso é muito preocupante. Acredito eu que o maior bem de um clube é a sua torcida, porque jogador – inclusive os ídolos – passam; diretoria e comando técnico, passam; estádio e CT, passam; mas, a torcida que ama, ama quando tá em cima e apoia quando tá em baixo. O maior e mais próximo exemplo disso, é o Santa Cruz, que deveria servir de exemplo para o Náutico.

A torcida não abandonou o time após uma diretoria gerir mal e levar ao inferno, acreditou que era possível voltar ao céu e, no fim, se emocionam com seu passado pelo que conquistam no presente. A torcida é reflexo do time, mas o time também é reflexo da torcida, e, para sair desse ciclo vicioso, alguém tem que deixar o orgulho de lado e entrar de cabeça nesse movimento. Eu e você, nas eleições, damos um tiro no escuro, porque muitas vezes os candidatos apenas jogam palavras ao vento, mas, tem que ser assim, sempre foi, e foi assim que a gente acertou com Kuki, com Muricy Ramalho e com muitos outros.

Até acertarmos, talvez tenhamos que chegar ao inferno, mas é aí onde mora o perigo. O Náutico não resistiria a uma Série C com a torcida que ele tem hoje! Na Série B, a torcida prefere, enquanto o time joga em casa, discutir entre si nas redes sociais sobre as empresas que patrocinam o Santa Cruz, enquanto os tricolores estão se organizando para invadir o aeroporto e buscar o time e, na próxima rodada, jogar com casa cheia. Esse texto não é sobre dinheiro, é sobre apoio. Você precisa dar uma chance para o Náutico em 2016, porque há chance de ser mais um ano perdido, um daqueles que a gente prefere esquecer, mas, pode ser diferente e ser o primeiro passo do time na busca pelo respeito.

Muitos times e jornalistas parabenizaram o acesso do Santa Cruz, quase todos com o mesmo argumento: “bem-vindos de volta, essa torcida merece estar na elite”, coisa que JAMAIS falariam para o Náutico. Mais uma vez eu repito, não é sobre fazer papel de trouxa  e fingir que tá tudo bem, principalmente os mais velhos, que já estão calejados da luta, mas, se não formos nós, quem vai estar lá pra empurrar o Timbu pra cima e comemorar quando ele chegar lá? Eu, particularmente, nunca vi o time ser campeão e choro ao pensar que posso morrer sem participar de um título. É triste, principalmente por ver crianças de 10, 8 anos no estádio, certamente os pais levam, mas quando elas começarem a entender o que acontece ali, talvez decidam mudar.

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Comigo aconteceu o oposto, eu nasci Alvirrubra por influência do meu pai, hoje ele não é mais um torcedor e até me encoraja a mudar, mas eu escolhi ser Náutico e, enquanto eu tiver viva, o Náutico não vai jogar com público zero. Sei que há mais alguns que pensam assim, mas é de cortar o coração abrir as redes sociais e ver a torcida se auto sabotando. Alvirrubro, deixa para o rival a missão de te abater, desestimular e lembrar dos anos tristes que vivemos, para tu, como torcedor, deixa apenas o amor e a esperança. Já dizia Gilberto Gil, “com fé eu vou, que a fé não costuma falhar”.

Talvez seja difícil amar na dificuldade, ainda mais com tanta politicagem, mas, irmão, se você quiser apagar o amor dos poucos que ainda se movimentam pelo Náutico, veste uma camisa do Sport e vai pra Ilha do Retiro, ou põe a do Santa e vai ali no aeroporto. Paulo Araujo escreveu: “(…) Não existe razão lógica pra alguém torcer pelo Náutico que não seja amor e opção própria. O sujeito que torce pelo Náutico, realmente torce, realmente acompanha… nada justifica alguém ser Náutico, que não seja por realmente torcer e acompanhar o time”.

CNC

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