Um bocado comido é um bocado esquecido
- Updated: 29 de março de 2016
Uma das frases que eu sempre escutava da minha vó e ainda hoje escuto vez outra de minha amada mãe é “um bocado comido é um bocado esquecido”. As pessoas, quando são contrariadas por outra, rapidamente esquecem tudo de bom que a outra já lhe fez e tomam atitudes drásticas afim de que seus desejos e anseios sejam atendidos. O que isso tem com o futebol cearense? Tudo.
Quando Lisca foi contratado para comandar o Ceará S. C., 90 a 95% dos torcedores não acreditavam mais na permanência. Vários treinadores já tinham passado e o time estava atolado até o nível acima do meião na lama da zona de rebaixamento. A série C praticamente era uma certeza. Daí Lisca com sua confiança, com sua forma doida de comandar uma equipe salvou o Ceará. Lisca venceu inacreditáveis 6 dos últimos 8 jogos da temporada, ainda empatou mais um e só amargou uma derrota. Com o Castelão lotado, frente ao Macaé, o milagre que poucos esperavam aconteceu. Hoje o time não aguarda o início da martirizante série C e sim a torcida aguarda a série B, sonhando com um novo acesso a série A.
Só que no futebol cearense, existe um mundo paralelo a tudo. Não procure sentido ou razão, pois não há. Esse mundo paralelo se chama clássico-rei. No clássico rei você não pode perder. Raramente lhe é dada uma nova chance. E Lisca não venceu o primeiro. A torcida se chateou e ainda aguardou o segundo. Lisca não voltou a vencer, empatou em 1 x 1, mas quando a tosca tabela do campeonato cearense lhe exigia uma vitória. E essa foi a gota d’água para que os amadores dirigentes do alvinegro esquecessem tudo que houve em 2015 e tirassem Lisca do comando.
Não importa que Lisca tenha salvo o Vozão da série C, muito menos que tenha tido a melhor campanha da primeira fase do estadual. Robinson de Castro não quis saber que o Ceará se classificou em primeiro na primeira fase da Lampions e estava a dois dias da decisão diante de um Santa Cruz que está na séria A do brasileiro. Robinson queria vencer o clássico rei, ele foi contrariado com um empate em 1 x 1 e sobrou para o Lisca. Assim funciona o futebol cearense.
Não vou dizer aqui que o futebol apresentado pelo time comandado por Lisca era uma maravilha. Muito longe disso. Apesar de ter tido um aproveitamento de 70% em 2016, Lisca não conseguiu impor um padrão tático ao time. A falta de Ricardinho no meio ainda não foi superada. O time praticamente não repetiu uma escalação, e para mim, esse foi o maior pecado de Lisca esse ano. Rodou demais os jogadores em busca de uma formação ideal. Gosto quando o treinador define sua onzena, insiste com ela e dá ritmo ao time. Assim, rapidamente se encontra esse padrão que tanto se busca, e as alterações no elenco passam a ser pontuais. Lisca variou demais a equipe e não achou o padrão após três meses de temporada.
Agora, sem o Lisca, o nome mais cotado para assumir o cargo é Sérgio Soares, que teve uma excelente passagem pelo Ceará, e também foi demitido após não ter conseguido o acesso do clube para série A, mesmo tendo chegado bem perto disso. Seja quem for que irá assumir, que consiga rapidamente atender os anseios da torcida e da diretoria, e que vença os clássicos reis, caso o contrário, certamente também irá rodar.
Por Carlos Henrique Sousa – @ CHRSousa
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