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Náutico e Santa Cruz, quando os caminhos se cruzam

É bem verdade que nos últimos anos, o Santa Cruz teve mais motivos para comemorar do que o Náutico. Em 2006 o Santa Cruz entrou numa crise que o levou, em 2009, à Série D, uma queda de três divisões em três anos. Ficando entre os últimos colocados da Série A (lanterna em 2006), Série B (18º em 2007), Série C (29º em 2008) e, inclusive da Série D (28º em 2009), o tricolor teve o apoio da sua torcida e, por mais que fosse difícil, conseguiu em 2007, numa partida contra o Betim, levar 70 mil torcedores ao Arruda e estes fizeram um dos maiores públicos do ano.

Durante esses dez anos, o Mais Querido se dedicou ao Campeonato Pernambucano, onde conseguia buscar títulos pra instigar a torcida e gerar alguma renda. Após três anos na quarta divisão, dois na terceira e dois na segunda, hoje o Santa Cruz está praticamente de volta à elite do futebol brasileiro. Nesse tempo longe da Série A o tricolor conquistou o vice-campeonato da Série D em 2011, e garantiu o acesso à Série B como campeão da Série C em 2013, ano que conquistou o tri campeonato estadual, as três vitórias consecutivas foram sobre o Sport.

O Náutico, por outro lado, conquistou o acesso à Série A em 2006 na terceira colocação, onde passou três anos e voltou à Série B em 2009, como vice-lanterna. Após se manter no meio da tabela no ano seguinte, foi vice-líder do campeonato em 2011 e foi em 2012 que o Náutico teve, me arrisco a falar que, sua maior alegria nos últimos anos: conseguiu a classificação para a Sul Americana numa vitória sobre o Sport, e consequentemente rebaixou um dos seus maiores rivais à Série B em 2013.

Apesar de se manter na elite, talvez, naquele momento, tivesse sido melhor o rebaixamento para o Timbu. Jogando na Arena Pernambuco, a torcida abandonou o Náutico, um Náutico que, por ironia, foi eliminado da Copa Sul Americana sem nem sair do Recife, ao perder nos pênaltis, dentro de sua nova casa, para o mesmo Sport que havia rebaixado num Aflitos lotado e pulsante meses antes. Quando o Náutico começou a definhar, já estava rebaixado em outubro, jogando com o estádio praticamente vazio e com, até então, a pior campanha da Série A na história dos pontos corridos, a torcida se instigou à investigar o destino que a renda do clube estava tomando.

A campanha do Náutico na Série A de 2013 foi a pior da história do clube. Nos 38 jogos, foram 28 derrotas. Fora de campo, o atraso nos salários virou notícia no país inteiro, com a greve dos jogadores liderada por Martinez e apoiada por grandes clubes como o Corinthians que participa ativamente do movimento Por Um Futebol Melhor. O que chama atenção foi o fato do Timbu ter o maior orçamento da sua história nesse mesmo ano (R$ 41 milhões) e uma dívida quase 16 milhões de reais (22%) maior que a de 2012. A investigação obteve resultados que não puderam ser expostos à torcida e, no fim, ficou só a mágoa do torcedor e as lembranças de uma gestão problemática.

Propaganda do atual grupo que lidera o Náutico

Após os escândalos financeiros, surgiu um grupo prometendo transparência e, talvez por carência, a maioria dos Alvirrubros se agarraram à essa promessa de dias melhores e uma nova gestão assumiu o clube. Em 2014 o Náutico chegou à final do estadual, mas não conseguiu nada melhor que isso. Meio de tabela na Série B, eliminação precoce na Copa do Brasil e Copa do Nordeste e, seis treinadores. SIM, SEIS. Fazendo uma análise, o ano não foi de todo ruim, pois o Náutico evitou a queda e conseguiu a garantia da participação no Campeonato Regional e Nacional em 2015.

Para o Santa Cruz, que disputou apenas três competições e saiu vitorioso de duas delas, e para o Náutico, que participou de cinco e o melhor resultado foi evitar um rebaixamento, 2015 foi duro. O Santa Cruz chegou a ser lanterna do Pernambucano, mas se reergueu e saiu campeão, o Náutico, por sua vez, brigou na parte de cima mas terminou na 6ª posição, em baixo do Central e do Serra Talhada. Moacir Junior deu lugar à Lisca, que levou o Náutico à liderança da Série B, invicto por seis rodadas e, pela primeira vez, o Náutico teve mais vitórias que derrotas na Arena Pernambuco. Mas a teimosia do treinador fez o Náutico amargar uma queda que custou o acesso no fim do ano, já com Gilmar Dal Pozzo.

Dal Pozzo chegou e tirou leite de pedra, fazendo o time que tinha vencido apenas o Boa Esporte fora de casa, em maio, vencer Paysandu, Santa Cruz e Vitória, concorrentes diretos. Já o Santa Cruz, ocupava a 18ª colocação quando Ricardinho deu lugar a Marcelo Martelotte. De lá pra cá, “ui, papai, o Santinha tá subindo” virou hit e não poderia ser diferente: após 10 anos, uma vitória (ou dois empates) separam o Santa Cruz da Série A. Já o Náutico, precisa vencer as duas últimas rodadas e torcer pelo tropeço do rival tricolor. Não é impossível, mas a difícil missão do Timbu se torna apenas utopia por, nesses dois jogos, ter que enfrentar seu maior adversário: ele mesmo.

O Náutico precisa dar um tiro certo nessas eleições e trabalhar com o departamento de marketing para, se possível, conquistar um título em 2016. O título estadual talvez relembre à torcida do Timbu as emoções vividas no Caldeirão dos Aflitos. O Santa jogou a Série D por três anos consecutivos e hoje todos veem o time caminhar a passos largos para mais um acesso, num ano onde tudo poderia dar errado. Crescer na hora certa, o Náutico precisa jogar bola para vencer, não para iludir o torcedor que, por sua vez, não pode abandonar o Clube nesse momento.

“O Santa foi da A para D e da D para A e o Náutico não ganhou 1 título”, o Timbu tem a chance de mudar essa história em 2016. Na última vez que a Cobra Coral chegou à elite do futebol brasileiro, fazia 11 anos que os Alvirrubros não eram campeões estaduais, a história está se repetindo e esse título será o primeiro passo na recuperação do Náutico: reconquistar a torcida. Não deixem o vermelho e branco desbotarem das suas almas, o Náutico vai existir até que o último coração alvirrubro pare de bater, não deixe ele morrer.

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